ARTIGO POR VITOR PANIAGUA: O “LOUCO” DA CAVERNA

Rondônia é um Estado de muitas riquezas, embora esteja em petição de falência. Fruto de décadas de péssimos governos, de grupos encastelados no poder por décadas que aniquilam, sugam e dilapidam suas riquezas. A riqueza de Rondônia está em seu povo. É, por assim dizer, como as formigas. Seu formigueiro pode ser destruído por completo que em pouco tempo lá está novamente em pé.

Assim o governo faz com o povo de Rondônia. Que não quer muita coisa do governo, apenas o básico: estradas boas, semente, calcário, orientações técnicas, parcerias. O resto o povo faz, porque ele sabe fazer. Mas nem isso o governo dá para o povo. O governo cortou até a semente de feijão que distribuía aos pequenos produtores e que fazia de Rondônia um grande produtor de feijão. A próxima safra vai ser pequena. Os recursos para o turismo foram remanejados, assim como foram os recursos para reparos na Usina de Calcário. O governo não faz o repasse de R$ 08 mil mensais para a APAE de Vilhena que cuida de 260 alunos especiais, mas paga R$ 25 milhões limpinhos para uma empresa de vigilância que teve o valor do seu contrato triplicado sem que uma nova escola tenha sido construída.

Se o empréstimo de hum bilhão feito junto ao BNDES fosse investido na produção em cinco anos o Estado teria cinco bilhões em caixa, resultado do investimento na produtividade de Rondônia, mas como os investimentos estão sendo feitos para aumentar ainda mais a estrutura de governo como a construção de presídios, por exemplo, em cinco anos o Estado estará maior, mais caro, ingovernável e falido.

Essa fala e constatação não são minhas. É do deputado Hermínio Coelho, presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia, a única voz dissonante do discurso oficial de que Rondônia caminha a mil maravilhas. E por ir a público dizer o que constata tem sido taxado de louco. Por não se curvar diante do discurso do governo foi enredado em uma armação que o afastou do comando da Assembleia por um período, teve seu filho preso de maneira ilegal e seu nome associado a crimes que a polícia não conseguiu comprovar porque jamais os cometeram. Mesmo assim continua denunciando a corrupção no governo, a falta de planejamento e a má gestão. E continua sendo taxado como louco. Desconfio que não concordar com o “status quo” é mesmo loucura. E pode dar até cadeia.

Se o governo imaginava que calaria o presidente da Assembleia com as ações de uma famigerada e malfadada Operação Apocalipse errou na medida. Tem sido um calo no sapato do governo. Se antes qualifica-lo como louco era a receita ideal para desqualificar seu discurso, próximo do ano eleitoral as andanças de Hermínio pelo interior do Estado vai encontrando ecos nos escalões da sociedade.  Se antes era uma voz que clamava no deserto, hoje não fala apenas para cactos e areia. As cavernas já as ouvem. Em algum ponto de vista até concordam.

Na parábola da Caverna de Platão, em A República, um prisioneiro consegue sair da caverna onde vivia às sombras com outros homens descobrindo não apenas que as sombras em que viviam eram feitas por homens como eles e fora da caverna havia uma realidade além do conhecido, bem melhor do que a sombra e a escuridão. Caso ele decida voltar à caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situação extremamente enganosa em que se encontram, correrá, segundo Platão, sérios riscos – desde ser ignorado até ser morto pelos companheiros que o tomarão por louco e inventor de mentiras.

Embora saiba o risco que corre Hermínio parece decidido exercer esse papel, o de louco da caverna, que decide voltar e contar o que viu fora dela. Pode até ser ignorado, taxado de inventor de histórias e até ser assassinado. A “luz” que domina a cena tentará de toda as formas desacreditá-lo com a força da mídia e dos muitos que a cerca. Mas é inevitável que algum feixe de luz, ainda que uma réstia tênue consiga penetrar pelas frestas e alcançar o interior da caverna. Se não provocar uma mudança pelo menos evocará uma reflexão na sociedade, que precisa discutir e decidir se o que ai está é o que lhe serve.

Vitor Paniagua (Jornalista).

REDAÇÃO HOJERONDONIA.COM





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