Julgamento do ex-pastor Georgeval Alves Gonçalves começou na última terça-feira (18) após ter sido adiado por alguns dias. Ele foi julgado pelas acusações de duplo homicídio qualificado, duplo estupro de vulnerável e tortura. Georgeval Alves, condenado por estuprar, torturar e matar o filho e enteado em Linhares (ES) — Foto: Fernando Madeira/Rede Gazeta
O ex-pastor Georgeval Alves Gonçalves foi condenado a 146 anos e quatro meses de prisão por estuprar, torturar e matar o filho e enteado, os irmãos Kauã e Joaquim, em Linhares, Norte do Espírito Santo, em 2018. O julgamento começou na última terça-feira (18) e terminou nesta quarta (19) após ter sido adiado no início do mês. A morte das crianças completa cinco anos nesta sexta (21).
Georgeval foi julgado pelas acusações de duplo homicídio qualificado, duplo estupro de vulnerável e tortura. Veja as condenações por cada um dos crimes:
- 40 anos de prisão para cada um dos meninos pelo crime de homicídio;
- 22 anos e seis meses de prisão para cada um dos meninos pelo crime de estupro;
- 10 anos e 8 meses de prisão para cada um dos meninos pelo crime de tortura;
- Ao todo, o ex-pastor foi condenado a 146 anos e 4 meses de prisão.
A sentença foi lida no início da noite no Fórum de Linhares, onde o caso foi julgado, após reunião dos jurados do conselho de sentença. O julgamento estava previsto para terminar nesta quinta (20), véspera dos cinco anos do crime.
Família comemora condenação
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Pastor Georgeval contou na primeira entrevista que tentou salvar as crianças — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Na época, Georgeval contou que assistia a um filme com os filhos à noite e depois os colocou para dormir. Ainda segundo a versão do ex-pastor, por volta das 2h, a babá eletrônica que monitorava as crianças no quarto começou a apitar e ele ouviu gritos dos filhos. Depois disso, ele teria tentado salvar as crianças.
“Eu vi um fogo muito grande. Eu corri desesperado, eu escutei o choro deles, a gritaria, eles gritando pai, pai, pai. Eu coloquei a mão na cama e não consegui pegar. Eles se abraçaram, eu não consegui, o fogo estava muito quente, queimei meus pés, minhas mãos. Eu saí, estava só de cueca, gritando. Comecei a desesperar, duas pessoas vieram e me tiraram da casa, eu tentei uma três vezes entrar para salvar mas já não ouvia mais a voz deles”, contou Georgeval na época logo após a morte das crianças.
Em uma imagem gravada por uma câmera de segurança é possível ver o momento que as chamas se espalham pela casa. Segundo o Corpo de Bombeiros, os irmãos morreram carbonizados.
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Imagens de câmera de segurança mostram o momento que chamas atingem quarto das crianças — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Horas depois do incêndio, Georgeval fez um culto na igreja onde era pastor. Depois do culto ele vai a uma pizzaria em Linhares, e aparece com os pés enfaixados.
2. As interferências na investigação
Três dias depois do incêndio, Georgeval e a esposa vão até o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para ajudar na identificação das crianças.
A polícia técnica faz perícia na casa e encontra vestígios de sangue. Uma semana depois do incêndio, o caso tem uma reviravolta e Gerogeval é preso. A polícia alegou que o ex-pastor atrapalhava a investigação sobre o caso.
As inconsistências na versão de Georgeval começaram a aparecer. O exame de lesão corporal mostrou que o ex-pastor teve apenas uma queimadura, do tamanho de uma moeda, somente em um pé.
Os bombeiros apontaram que Georgeval não tinha nenhuma queimadura no rosto, e que a versão narrada por ele seria impossível por causa das altas temperaturas que estariam no local do incêndio.
Sendo assim, a Polícia Civil constatou que o ex-pastor não apresentava lesões de quem teria tentado socorrer duas crianças em um fogo intenso.
Dezenove dias depois do incêndio, os corpos de Kauã e Joaquim são enterrados. Georgeval não vai ao enterro por já estar preso.
Ao todo, seis perícias são feitas na casa. Trinta pessoas prestam depoimento e ao final da investigação. A versão de Georgeval é derrubada pelas provas técnicas.
A Polícia informou que o pastor estuprou, agrediu e queimou o filho e o enteado vivos.
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Kauã e Joaquim foram assassinados no dia 21 d abril de 2018 — Foto: Reprodução/TV Gazeta
O delegado André Jaretta contou que para ocultar o ato sexual, comprovado pela perícia, George agrediu as crianças. Essa agressão também foi confirmada pelos vestígios de sangue no banheiro. O exame de DNA atestou que o material era de Joaquim.
“Com as duas vítimas ainda vivas, porém desacordadas, o investigado as levou até o quarto, as colocou na cama e ateou fogo nas crianças, fazendo com que elas fossem mortas com o calor do fogo”, explicou Jaretta.
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O delegado disse ainda que os meninos morreram pela carbonização. “Isso tudo é comprovado pelo exame pericial. As crianças continham fuligem na traqueia e o exame demonstrou que elas ainda respiravam quando começou o incêndio”, afirmou.
Imagens obtidas pela TV Gazeta na época mostraram com exclusividade o estado em que o quarto dos irmãos ficou após serem queimados vivos
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Irmãos foram carbonizados dentro do quarto da casa onde moravam em Linhares — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Para o Ministério Público, Gergeval ainda usou a morte das crianças para se promover na igreja onde era pastor. Segundo o MP, com a “explosão de fiéis” os cultos ficaram lotados, e a igreja arrecadou mais dinheiro.
4. O que aconteceu com a mãe das crianças
Durante a investigação, Juliana Salles, mãe das crianças, chegou a ser presa duas vezes. Para o ministério público, ela foi omissa e sabia que eles corriam risco.
Mas a Justiça entendeu que não havia provas do envolvimento dela na morte dos filhos. O processo contra ela foi arquivado. A decisão gerou um protesto da família de Kauã.
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Pastora Juliana Sales Alves presa em Minas Gerais por omissão no caso da morte de filhos em incêndio no Espírito Santo — Foto: Umberto Lemos / InterTV
No dia do incêndio, a mãe disse que estava em um congresso em Minas Gerais com o filho mais novo do casal.
Quase cinco anos depois, Juliana está em outro relacionamento e teve mais um filho.
Georgeval continuou preso em Viana.
5. As mudanças na data do julgamento
O julgamento chegou a ser marcado duas vezes, a primeira vez para março, mas foi remarcado para abril, após um pedido feito em caráter de urgência pelo advogado do acusado.
A decisão para mudar a data do julgamento foi feita pelo juiz da Primeira Vara Criminal de Linhares Tiago Fávaro Camata, que também cancelou a nomeação do advogado Deo Moraes Dias, que estava com o caso desde o dia 4 de novembro. Pedro Ramos assumiu a defesa do réu em fevereiro.
A solicitação da defesa para o adiamento do júri foi motivada por um procedimento cirúrgico no dia 14 de março, um dia após a data anterior do julgamento.
6. Julgamento começa e é adiado
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Kauã e Joaquim: advogado Pedro Ramos (segundo na foto) deixa defesa de Georgeval no início do julgamento. — Foto: Carlos Alberto Silva/Rede Gazeta
Com a nova data marcada, o julgamento começa no dia 3 de abril, já com a expectativa e a incerteza causada pela sugestão de que a defesa abandonasse o caso, a sessão plenária teve início às 10h08, com mais de uma hora de atraso, no fórum de Linhares, no Norte do Espírito Santo e foi suspensa depois que um dos advogados do réu abandonou o plenário.
Inicialmente o julgamento aconteceria por um período de três dias e todo o salão já estava preparado com os 25 jurados, sendo cinco homens e vinte mulheres e desse grupo seriam escolhidos os jurados do conselho de sentença.
Com o abandono e a nova do julgamento marcada para 18 de abril, o juiz multou a defesa do ex-pastor em mais de R$ 260 mil.
Fonte: Por Vitor Ferri, g1 ES e TV Gazeta