Em muitos países, os tecnologistas são cientistas ou engenheiros que se especializam em determinada tecnologia. Em outros, porém, existe distinção estabelecida através de leis entre os que tenham sido graduadas e os que tenham trabalhado neste campo para receber este título. No Brasil, o tecnólogo é o profissional de nível superior formado em um curso superior de tecnologia. Essa modalidade de graduação visa formar especialistas para atender campos específicos do mercado de trabalho.
O curso superior de tecnologia é de foco acadêmico específico. Por essa razão, o campo de atuação do tecnólogo limita-se a especificidade de sua formação. Dentro de sua especialidade, porém, o tecnólogo é pleno. O curso superior de tecnologia possibilita aos egressos dar continuidade em seus estudos cursando a pós-graduação Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado) e Lato Sensu (Especialização).
Pois bem, em Rondônia o pioneirismo da formação tecnológica começou com a Uniron, ao instituir os cursos de Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos e o de Tecnólogo em Empreendedorismo. Hoje decorridos vários anos da novidade atrativa, por serem cursos superiores de formação entre dois a dois anos e meio de estudos, se observa dois fiascos. Enquanto o curso de formação de Gestão de RH serviu em tese, apenas para graduar pessoas com curso superior, o Curso de Empreendorismo o fiasco foi ainda maior, acabou extinto e em seu lugar surge o Curso de Gestão Comercial (o correto).
De lá pra cá, principalmente o Curso de Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos, acabou sendo implantado em várias outras faculdades. A proposta acadêmica é boa, agora falta mercado de trabalho para aproveitar estes especialistas. No caso de Rondônia, a situação se agrava ainda mais, devido ao fato das empresas locais não terem a cultura gerencial para absorver, implantar e colocar em prática uma efetiva Gestão de RH. Na realidade, não só as empresas, mas, os próprios órgãos públicos tratam a Gestão de RH como um simplório setor de folha de pagamento e só. Outro fator são as concorrências paralelas: bibliotecários, administradores, psicólogos e até contadores fazem às vezes de RH.
Do ponto de vista acadêmico, os cursos de tecnólogos estão recheados de professores divorciados desta formação. Assim sendo, improvisam suas disciplinas, esquecendo-se do foco, da vocação, da missão, da formatação e da aplicação. O curso acaba servindo mesmo para mais um “curral” de outras formações, deixando o tecnólogo sem sua essência.
Recentemente surge em Rondônia mais uma “pegadinha”: O Curso de Tecnologia em Gestão Pública, ministrado por várias faculdades, inclusive pelo Ifro – Instituto Federal de Rondônia. Tudo muito bem estruturado, acontece que o acadêmico, ou seja, a vítima, não é informada que apesar de ser um curso voltado para a administração pública, ao terminar, dificilmente terá “espaços”, ou poderá participar de um concurso público. Na grande maioria dos estados, inclusive Rondônia, quando surgem “espaços”, o concurso requer formação em administração. Então, o que adianta se qualificar numa área, cuja empregabilidade só acontecerá se vier a ser convidado para exercer um cargo público comissionado? Além disso não existe nenhum regramento para as nomeações de cargos comissionados, tanto faz ter ou não curso superior.
A verdade é que os tecnólogos não têm sido contemplados nos concursos públicos, e suas formações, principalmente a grade curricular precisa passar por uma revisão, quanto a praticidade deste profissional. Além disso, trata-se de uma profissão sem regulamentação profissional.
Após formado, o tecnólogo acaba sendo desprezado, tendo dificuldades até mesmo de registro. Por exemplo, por muitos anos, o Conselho Regional de Administração se recusou a reconhecer o tecnólogo em RH. Na área de engenharia os problemas são inúmeros, envolvendo o Curso Superior de Tecnólogo em Gestão Ambiental. Veterinários criam problemas com profissionais especialistas neste setor. As próprias faculdades locais não aproveitam estes profissionais em seus quadros como professores/ colaboradores.
Enquanto as faculdades lucram, implantando ilusões, de ter um curso superior e a garantia de melhores salários, as vítimas acabam constatando posteriormente, que ou buscam o bacharelado (curso de quatro anos), ou ficarão na marginalidade. Esta marginalidade pode ser constatada, por exemplo, por parte daqueles que já concluíram através da Fimca, o Curso Superior de Tecnólogo em Gestão Hospitalar. Neste caso, surge um agravamento, devido ao fato da existência do bacharel em Administração Hospitalar. Outro detalhe é quanto a observância do número de hospitais existentes. Nos órgãos públicos e particulares não tem sido cumprido a legislação que exige profissionais com esta formação.
Indiferentes ao futuro, a cada dia novos cursos e com mensalidades atrativas surgem. O jovem e a família acabam se iludindo com as promessas. Os mais recentes são: Curso Superior de Tecnólogo em Comércio Exterior e o Curso Superior de Tecnólogo em Produção Multimídia. Quantas empresas em Rondônia exportam? O Curso de Comércio Exterior terá certamente o mesmo destino do Curso Superior em Secretariado, que acabou falindo, deixando estes profissionais na rua da amargura. O de Produção Multimídia tem com objetivo de formar este profissional, capaz de criar, produzir e gerenciar recursos de mídias digitais, configurando um único e específico produto multimídia. Pelo amor de Deus!
As aberrações são inúmeras na formação superior em Rondônia, e não são restritas a formação de tecnólogo. Existe um Curso de Bacharel em Jornalismo, que não existe a disciplina básica – redação jornalística, além disso, os dois últimos períodos são uma verdadeira farsa. E tem faculdade mantendo como proposta, que a missão é melhorar a vida das pessoas.
Este artigo é apenas um alerta. Apesar de tudo isso, o Ministério da Educação, continua referendando algumas sandices, verdadeiros absurdos. Confira agora alguns cursos superiores de tecnologia, que merecem uma profunda reflexão: Jogos Digitais, Processamento de Carnes, Produção de Cachaça, Viticultura, Comunicação Assistiva, Comunicação Institucional, Conservação e Restauro, Design de Interiores, Design de Moda, Design de Produto, Design Gráfico, Fotografia (já contemplado no curso de jornalismo), Produção Cultural, Produção Fonográfica, Produção Publicitária (existe o curso superior de publicidade). E quanto a “enrolação” e a embromação, e os filminhos medíocres exibidos para debates medíocres, ficam para depois. (Paulo Ayres: Supervisor em Gestão de Pessoal, Analista de RH, Tecnólogo em Gestão de RH, Técnico Legislativo, Radialista, Jornalista e Professor)
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DA REDAÇÃO DO HOJERONDONIA.COM