A princípio, pode parecer que qualquer manifestação da minha parte em relação à pesquisa do IRPE sobre as intenções de voto em Vilhena onde ele, assombrosamente, encontra um universo de 56% de intenção de votos para o candidato a prefeito José Rover, poderia soar como uma farsa. Uma farsa porque, todos sabem, sou declarado eleitor do deputado Luizinho a prefeito nas eleições municipais, e seria ilógico da minha parte não me manifestar a seu favor. Manifesto-me por dever de ofício, não pelo simplismo contestatório, mas por suspeições que o cenário suscita.
Todas as sondagens feitas por vários institutos, seja para conhecimento público ou para consumo interno, em momento algum se atingiu percentual como o apresentado pela pesquisa do IRPE. É natural que o atual prefeito esteja pontuando as pesquisas nesse início de campanha. Ele está no exercício do mandato, tem um grande aparato administrativo que o cerca e isso faz toda a diferença numa disputa eleitoral. Mas o IRPE (por favor, não confundir com aquele instituto picareta que realizou o concurso público municipal que logrou muita gente) prevarica em preceitos básicos para uma pesquisa que pretende ser séria.
Primeiro na quantidade de eleitores do município. Ao produzir sua estatística sobre mais de 61 mil eleitores, quando a cidade tem pouco mais de 52 mil revela que a empresa fez a estatística sobre o que imaginava ser e não sobre o que é de fato, e nem reconhece que isso faz diferença no resultado final. Fiquemos apenas no grotesco, para não chamar de má intenção, que imagino não tenha havido. Fiquemos também com a desculpa de que foi apenas um erro de digitação, conforme justificou o dono da pesquisa em matéria veiculada na imprensa. Só não posso concordar com a justificativa de que, mesmo errando na quantidade de eleitores, nada muda no resultado final. É zombar da nossa capacidade de análise, por menor que seja.
Em outra situação, que deve servir de alerta, está uma enquete publicada na Revista Enquete, da mesma empresa, em sua edição inaugural, com cara de ter sido gerada para o momento em que vive a cidade, o de disputa eleitoral. Na enquete, onde sabemos, é uma sondagem feita de maneira aleatória, sem nenhum ingrediente científico, que está aberto ao sabor das paixões de quem opina e também de quem a dirige, os números são praticamente os mesmos publicados na pesquisa que foi registrada na Justiça Eleitoral. Não me passa pela cabeça nenhuma tentativa de manipulação de números ou reutilização dos mesmos da enquete, porém, se isso ocorreu a empresa pode ter descambado para um terreno perigoso, o de tentar ludibriar a Justiça eleitoral usando o favorável número da enquete, que não tem nenhum valor científico, para registrar uma sondagem que tem a premissa de mostrar como anda o humor dos eleitores. Para não crer nisso prefiro ficar no campo das coincidências.
Não estamos afirmando que ela tenha utilizado os mesmos números da enquete para produzir os números da pesquisa registrada no TRE, porque eles oscilam, bem próximos, mas oscilam um do outro, mas as próprias declarações na argumentação sobre a grotesca falha no número de eleitores nos deixa margem de pelo menos desconfiar. “Passei a noite editando a revista Enquete, e produzi o release às seis da manhã. É natural que cometamos erros nessas condições, afinal, realizo este trabalho em 134 municípios”, disse Dejanir Haveroth, o dono da empresa, em entrevista a um site local. Ora, ora. O que a pesquisa tem a ver com a revista e a enquete?
Outra informação que salta aos olhos é que, segundo a informação da mesma fonte, não houve contratante da pesquisa. Nesses tempos bicudos a empresa Comunicare está com os bolsos cheios, porque nem o Datafolha enfia a mão no bolso para produzir pesquisa para as empresas do grupo de comunicação a que ela pertence. Com todos estes ingredientes sobra margem para todo tipo de suspeição e de olharmos os números com precavida reserva. No mínimo.
Vitor Paniágua (jornalista).
REDAÇÃO/ HOJERONDONIA.COM