DIÁRIO PORTAL: A CRISE POLÍTICA DOS DONADON E A TÁVOLA REDONDA

Se alguém tem alguma dúvida de que as eleições começaram é porque não tem, por falta de tempo ou por desinteresse mesmo, clicado o mouse pelas notícias da mídia eletrônica e nas redes sociais. E ela começou como por mais de 30 anos tem começado no cone sul, pelo sobrenome político mais tradicional da região: Donadon.

O penúltimo movimento desse xadrez começa pelo embate entre o mais importante nome da família – Melki – e o emergente Júnior, vereador habilidoso, ora destemperado, mas se comparado com todos os seus demais pares do parlamento municipal, anos luz na frente em preparo intelectual. Talvez por isso tenha tido o insight para sair da última refrega com Melki em franca vantagem. Explico:

Quando disse última refrega é porque a que ainda faz sucesso nas mídias não foi a última, nem na coxia, muito menos no picadeiro. Recorde-se que dia desses foi publicado que Júnior havia procurado Melki para pedir apoio ao seu projeto para a Câmara Federal. Apoio que lhe foi negado e, meticulosamente engendrado, vazado para a imprensa. Melki e Júnior são primos em primeiríssimo grau, consanguíneos, quase irmãos. Razão pela qual não desconfio que o motivo seja familiar, posto que sempre estivessemunidos. Pertencem – gostem ou não seus adversários e inimigos – a mais tradicional, mais longeva e de melhor aproveitamento devotosnas urnas e mandatos eletivos do cone sul do Estado de Rondônia. Para simplificar, nos últimos 32 anos um dia sequer passou sem que houvesse um Donadon investido de um mandato eletivo. As questões das rusgas então só podem ser políticas e o internauta, sempre pródigo em elucidar questões de foro íntimo já elencou uma série de razões para que Melki e Júnior estejam montando palanque em lados opostos. Abstenho-me de opinar sobre as razões por razões de foro íntimo.

O penúltimo round desse combate recebeu start na semana que passou quando Melki decidiu vir a público informar que o candidato que receberá seu apoio para deputado federal é seu sobrinho Natan Alevato Donadon, filho varão do deputado Natan Donadon que teve recentemente o seu mandato cassado. Para Melki, a candidatura do primo Júnior é um erro porque ele deveria cumprir o seu mandato e cita seu próprio erro no passado para corroborar com o que diz, no que júnior discorda. Com raríssimas manifestações de apoio, o gesto de Melki provocou vários sentimentos nos eleitores, desde uma piada de péssimo gosto, até uma provocação, menos como algo sério. Quem olha de fora e até de dentro vai perceber que nem mesmo os mais ferrenhos admirados de Melki se empolgam com a ideia de lançar “Natanzinho” a uma vaga no parlamento federal de tão absurda e insossa que a ideia se apresenta. Provavelmente nem ele.

Por outro lado o feedback foi todo favorável para Júnior, que acabou recebendo manifestações de apoio que provavelmente nem ele esperava. Para quem opinou e até para aqueles que se reservaram para si o escrutínio de sua opinião Júnior pode não ser o candidato do Melki muito menos da família, mas que pode vir a ser o candidato de quem espera ser representado por alguém que tem opinião própria, preparo intelectual e sabe argumentar diante da idiossincrasia de quem, bem o-sabe, lidera o grupo familiar.

Essa batalha Júnior venceu, mas nessa guerra é bom que não se comemore batalhas, melhor seria se nem as houvessem. É consenso dizer que encarando a disputa sem o apoio do grupo Júnior poderá até sair fortalecido das urnas, mas as chances de êxito são pequenas, e ele sabe disso. Poderá até se firmar como uma liderança do partido para voos futuros, porém a divisão e a profusão de egos provavelmente vai nos privar de uma representação federal. Convêm, portanto, que os sabres sejam embainhados e todos se reúnam para um diálogo na Távola Redonda. Reza a lenda que a Távola Redonda recebeu esse nome e formato redondo para que não houvesse cabeceira, isso representaria a igualdade entre os membros da cavalaria da corte do Rei Artur. Era ali, sentado na Távola como iguais que os cavaleiros acordavam sobre suas ações para o bem da corte.

Nas últimas eleições a desunião e a falta de consenso entre os membros do grupo provocaram vários abalos na sua estrutura política. Como liderança política Melki não precisa provar mais nada para ninguém, mas pode provar que sabe liderar mesmo quando não há consenso, porque no consenso não se prioriza um líder, mas o diálogo. Como ocorria na Távola Redonda. Caso o exemplo da corte do Rei Artur não convenha poderá recorrer ao prodigioso Alexandre Dumas, romancista francês que escreveu “Os Três Mosqueteiros” cuja máxima Unus pro omnibus, omnes pro uno (Um por todos, todos por um) é o lema da Suíça moderna. A Suíça havia se tornado uma confederação havia 20 anos apenas em 1868 quando tempestades de outono inundaram os Alpes Suíços provocando mortes e destruição. Para unir o povo suíço em um só objetivo o lema foi proposto e adotado. Sobrevive até hoje.

Quando o tempo e a longevidade provocam abalos, mesmo nas estruturas de poder político, é sempre bom recorrer às lendas e à literatura. Eles estão aí para nos ensinar como agir.

Vitor Paniagua – Jornalista

DA REDAÇÃO DO HOJERONDONIA.COM





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