Farinhada mantém tradição e união de famílias

Nascida na beira do Madeira, dona Neuraci do Nascimento criou os filhos da mesma forma que foi criada, com a farinha, dando continuidade a tradição da família. Aos 52 anos, ela garante que a “farinha da dona Neura” jamais perdeu a qualidade. Ela e outras 40 famílias da margem esquerda do rio Madeira foram remanejadas pela concessionária Santo Antônio Energia para o reassentamento Riacho Azul, porque o local onde moravam será atingido pelo reservatório da Usina Hidrelétrica Santo Antônio.

Uma ribeirinha nata, dona Neura diz sempre ter vivido bem às margens do Madeira, foi lá que ela e o marido, seu Luiz Oliveira, nasceram, cresceram e constituíram a família. Hoje são seis filhos, três deles casados, que também vivem da farinha, fabricada sempre em conjunto.

Com o remanejamento, ela e os filhos receberam uma área de 19 hectares, com casa e água tratada e as primeiras mudas de mandioca para a produção da farinha. Mas, como em toda mudança, dona Neura levou um tempo para se acostumar. “Cheguei a adoecer”, conta, completando que agora quando a saudade aperta, ela corre pra beira do rio.

Quanto à farinha, ela conta que a família produz conforme a demanda. “Fazemos de acordo com o gosto do cliente”, diz. Ela e cada um dos filhos casados têm sua própria casa de farinha, mas a produção é sempre feita em conjunto e de forma manual, desde a plantação até a hora de torrar, e às vezes até os vizinhos entram no meio pra ajudar. “Aqui é um divertimento até na hora de trabalhar”, diz seu Luiz.

Depois de descascada, a mandioca fica de molho três dias para amolecer. Feito isso ela passa pela máquina de moer, depois pela prensa, peneira para depois ser torrada. Para deixar um pouco mais amarelada, é usado corante de sorvete.

Para os vizinhos que não têm o equipamento necessário para a produção, dona Neura também faz a farinha. O dinheiro da venda é dividido em metades iguais para as duas famílias.

Cada saco de 40 quilos é vendido por R$ 160 em feiras livres da Capital, já para os supermercados sai por R$ 175. Segundo dona Neura, apesar do lucro ser pequeno, a família sempre viveu bem.

Antes o transporte para a cidade era feito de voadeira, hoje em dia a família faz isso de carro. “Antes a gente tinha que ter carteira para pilotar a voadeira, com a mudança todo mundo teve que tirar a habilitação para carro”, diz.

Nem tudo é perfeito

Apesar da vida tranquila, os moradores ainda sofrem com a falta de escola e transporte na pequena vila. O posto de saúde fica no assentamento vizinho, quando alguém precisa de atendimento urgente, sempre recorrem a dona Neura, que é uma as poucas que possui transporte próprio.
A escola só tem Ensino Médio do primeiro ao quinto ano. O filho mais novo, Tiago Nascimento, por exemplo, tem que atravessar o rio todos os dias de voadeira para estudar em Teotônio. O desejo dele era de que houvesse uma escola na própria região, para que evitasse também de ir pra cidade para estudar. “Acho importante dar continuidade a tradição, por isso acho importante ficar junto da família”, avalia o estudante do oitavo ano. Eleita como presidente da associação de moradores, dona Neura garante que vai correr atrás dessas melhorias para a vila, a fim de evitar que os jovens precisem deixar as famílias pras trás para estudar.

Diário da Amazônia.

Hojerondonia.com.





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