PORTO VELHO: 97 anos de emancipação e história

O município rondoniense de Porto Velho completa 97 anos de instalação neste 24 de janeiro, e por isto é o principal feriado da capital do estado. Esta data também é consagrada ao culto de São Francisco de Sales, padroeiro da cidade. No início do século passado (1915) Porto Velho era apenas um pequeno povoado encravado na selva Amazônica e fazia parte do estado do Amazonas. Na realidade, o município foi criado no dia dois de outubro de 1914, através da Lei nº 757, sancionada por Jonathas de Freitas Pedrosa. Em dezembro do mesmo ano, o governo amazonense nomeou o major do Exército Fernando Guapindaia de Souza como primeiro superintendente (cargo equivalente a prefeito) e este consumou a instalação do município em 24 de janeiro de 1915.

Primeira eleição

­ Major Guapindaia governou Porto Velho até o dia 31 de dezembro de 1916, quando ocorreu a primeira eleição direta para prefeito. Quem venceu a disputa foi o médico Joaquim Tanajura.

“A criação e instalação do Município foi um fator de grande importância para o desenvolvimento da região e resguardar os estrangeiros que trabalhavam na construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré”, afirma o historiador Abnael Machado. Ainda conforme o professor e historiador, Porto Velho era dividida em duas partes e governada por dois administradores. Da avenida Presidente Dutra até a margem do Rio Madeira o município era governado pelos americanos. A partir da avenida Presidente Dutra, onde os estrangeiros construíram uma cerca, o governo estava sob a responsabilidade de Joaquim Tanajura.

“Somente em 1931, quando o estado Brasileiro assumiu a Estrada de Ferro, Porto Velho deixou de ter dois administradores”, diz.

­Oficializada em 2 de outubro de 1914, Porto Velho foi criada por desbravadores por volta de 1907, durante a construção da E.F. Madeira- Mamoré. Em plena Floresta Amazônica, e inserida na maior bacia hidrográfica do globo, onde os rios ainda governam a vida dos homens, é a Capital do estado de Rondônia. Fica nas barrancas da margem direita do rio Madeira, o maior afluente da margem direita do rio Amazonas. Desde meados do sec. XIX, nos primeiros movimentos para construir uma ferrovia que possibilitasse superar o trecho encachoeirado do rio Madeira (cerca de 380km) e dar vazão à borracha produzida na Bolívia e na região de Guajará Mirim, a localidade escolhida para construção do porto onde o caucho seria transbordado para os navios seguindo então para a Europa e os EUA, foi Santo Antônio do Madeira, província de Mato Grosso.

­As dificuldades de construção e operação de um porto fluvial, em frente aos rochedos da cachoeira de Santo Antônio, fizeram com que construtores e armadores utilizassem o pequeno porto amazônico localizado 7km abaixo, em local muito mais favorável.

Em 15/01/1873, o Imperador Pedro II assinou o Decreto-Lei nº 5.024, autorizando navios mercantes de todas as nações subirem o Rio Madeira. Em decorrência, foram construídas modernas facilidades de atracação em Santo Antônio, que passou a ser denominado Porto Novo.

O porto velho dos militares continuou a ser usado por sua maior segurança, apesar das dificuldades operacionais e da distância até S. Antônio, ponto inicial da EFMM.

­Percival Farquar, proprietário da empresa que afinal conseguiu concluir a ferrovia em 1912, desde 1907 usava o velho porto para descarregar materiais para a obra e, quando decidiu que o ponto inicial da ferrovia seria aquele (já na província do Amazonas), tornou-se o verdadeiro fundador da cidade que, quando foi afinal oficializada pela Assembléia do Amazonas, recebeu o nome Porto Velho. Hoje, a capital de Rondônia

Após a conclusão da obra da E.F.M-M em 1912 e a retirada dos operários, a população local era de cerca de 1.000 habitantes. Então, o maior de todos os bairros era onde moravam os barbadianos – Barbadoes Town – construído em área de concessão da ferrovia. As moradias abrigavam principalmente trabalhadores negros oriundos das Ilhas Britânicas do Caribe, genericamente denominados barbadianos. Ali residiam pois vieram com suas famílias, e nas residências construídas pela ferrovia para os trabalhadores só podiam morar solteiros.

­Era privilégio dos dirigentes morar com as famílias. Com o tempo passou a abrigar moradores das mais de duas dezenas de nacionalidades de trabalhadores que para cá acorreram. Essas frágeis e quase insalubres aglomerações, associadas às construções da Madeira-Mamoré foram a origem da cidade de Porto Velho, criada em 02 de outubro de 1914. Muitos operários, migrantes e imigrantes moravam em bairros de casas de madeira e palha, construídas fora da área de concessão da ferrovia.

­Assim, Porto Velho nasceu das instalações portuárias, ferroviárias e residenciais da Madeira-Mamoré Railway. A área não industrial das obras tinha uma concepção urbana bem estruturada, onde moravam os funcionários mais qualificados da empresa, onde estavam os armazéns de produtos diversos, etc. De modo que, nos primórdios haviam como duas cidades: a área de concessão da ferrovia e a área pública. Duas pequenas povoações, com aspectos muito distintos. Eram separadas por uma linha fronteiriça denominada Avenida Divisória, a atual Avenida Presidente Dutra. Na área da railway predominavam os idiomas inglês e espanhol, usados inclusive nas ordens de serviço, avisos e correspondência da Companhia. Apenas nos atos oficiais, e pelos brasileiros era usada a lingua portuguesa. Cada uma dessas povoações tinham comércio, segurança e, quase, leis próprias. Com vantagens para os ferroviários, face a realidade econômica das duas comunidades. Até mesmo uma espécie de força de segurança operava na área de concessão da empresa, independente da força policial do estado do Amazonas.

­Essa situação gerou conflitos freqüentes, entre as autoridades constituídas e os representantes da Railway. Portanto, embora as mortes a lamentar durante sua construção tenham sido muitas, a ferrovia da morte, como chegou a ser denominada a Estrada de Ferro Madeira Mamoré é, na verdade a ferrovia da vida, para Porto Velho e seu povo. A importância da EFMM para a formação da cidade pode ser medida pelo texto da lei de sua criação, aprovada pela Assembléia Legislativa do Amazonas, que diz: Art. 2o. – O Poder Executivo fica autorizado a entrar em acordo com o governo Federal, a Madeira-Mamoré Railway Company e os proprietários de terras para a fundação imediata da povoação, aproveitando na medida do possível, as obras do saneamento feitas ali por aquela companhia, e abrir os créditos necessários à execução da presente lei.

Nos seus primeiros 60 anos, o desenvolvimento da cidade esteve umbilicalmente ligado às operações da ferrovia. Enquanto a borracha apresentou valor comercial significativo, houve crescimento e progresso. Nos períodos de desvalorização da borracha, devido às condições do comércio internacional e a inoperância empresarial e governamental, estagnação e pobreza.

­A cidade era pequena, começava na beira do Madeira e não ia além da Pinheiro Machado e da Brasília. O resto era floresta e igarapé. A população era pequena, cerca de 50 mil habitantes. O acesso era pelo rio e os grandes navios atracavam na cidade trazendo mercadorias e visitantes. Os moradores mais abastados viajavam de avião. A pista do aeroporto começava na Pinheiro Machado, onde foi construído o Ginásio Cláudio Coutinho e terminava onde hoje fica a Esplanada das Secretarias. No bairro Caiari, formado por um dos primeiros conjuntos residenciais construídos no Brasil, viviam os “categas”, funcionários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e do então Território Federal de Rondônia. Na beira do Madeira, ficava o bairro Triangulo, o Alto do Bode e a Baixa da União. Do lado direito da Rogério Weber ficava o Areal e o Mocambo, onde foi instalado o Cemitério dos Inocentes. A cidade era pacata e todo o mundo se conhecia. O fornecimento de energia elétrica ia das 8 às 22 horas. À noite, as famílias sentavam na frente de casa para conversar.

Fonte/hojerondonia.





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