Em Jaci Paraná, bem próximo, viceja o caos social…
Casas de excelente padrão, boas escolas, clínicas e hospitais funcionando perfeitamente, literalmente todas as ruas e avenidas devidamente pavimentadas, centros administrativos, minishopping, grande lojas. Parece uma localidade que só existe em nossos sonhos, mas ela existe e está localizada em Rondônia.
Apesar de ser um distrito de Porto Velho, Nova Mutum caminha célere para requerer sua emancipação. Localizada cerca de 100 km da capital em direção ao Acre, Nova Mutum tem a área urbana mais urbanizada de Rondônia. Ela foi construída para assentar moradores da Vila Mutum, localizada pouco mais adiante no mesmo sentido, localidade que vai ser alagada pela Usina de Jirau.
Apesar de os levantamentos da Vila de Mutum apontar apenas 380 residências em Nova Mutum foram construídas inicialmente 1.200 casas pelo Consórcio Energia Sustentável e a Construtora Camargo Correia, todas em alvenaria e alto padrão de qualidade, com ar condicionado e outras benfeitorias. A maioria das casas abriga trabalhadores da usina. As ruas em sua maioria levam o nome de árvores da flora ou animais da fauna da região, como Castanheiras, Pirambóia, Babaçu, Seringueira, Caiçara, entre outros. Outras 300 casas integram o projeto urbanístico de 02 milhões de metros quadrados para morar 06 mil pessoas.
A quadruplicação da população levou para Nova Mutum empresas como a Operadora Vivo, Lojas Gazin, fábrica Dullin, igrejas, auto-escola, e vários outros serviços. Além das casas padronizadas e de todas as benfeitorias que a cidade recebeu, destacam se as escolas bem planejadas, os hospitais e clínicas, os centros administrativos bem cuidados e os centros comerciais e mini-shopping. Um local que encanta aos olhos e parece ser um pequeno paraíso para morar. Inaugurada em janeiro deste ano a cidade possui ruas asfaltadas, tratamento de água e esgoto, rede de telefonia fixa e móvel, acesso à internet banda larga, coleta seletiva de lixo, praças e áreas de lazer, escolas de ensino fundamental e médio, terminal rodoviário, Correios, agência bancária, posto de saúde, central de abastecimento, além de setor para instalação de indústrias de médio e grande porte, centro comercial e feira livre dos produtores rurais.
Apesar disso não foi com tanta facilidade que o consórcio conseguiu retirar os familiares que viviam há décadas na Vila Mutum, hoje um monturo de madeiras e destroços. Tudo destruído por determinação do consórcio para que os moradores não voltassem e se instalassem novamente no local após serem assentados na nova cidade. Ainda assim a Justiça teve que intervir e determinar a retirada do local que será coberto pelo lago de Jirau. A última leva de resistentes foram retirados em fevereiro deste ano. Alguns espertalhões quando viram os valores das indenizações e as casas de alto padrão, chegaram e invadiram a área, mas o cadastro que de fato valeu foi o de 2008, quando foram cadastradas as 380 famílias com direito à indenização de seus patrimônios e com direito a nova moradia. Somente uma casa ainda resiste no local.
É de um morador que conseguiu provar na Justiça que sua residência foi subavaliada. Nesse caso, enquanto não haja uma nova avaliação e um novo acordo financeiro ele vai ficando por ali e o consórcio se obriga a manter água e energia necessários para a sobrevivência da família. Quando o Hoje Rondônia esteve na vila, em meados deste mês, a penúltima mudança de morador do local estava sendo realizada, ficando no local o solitário morador a espera de justiça na avaliação de sua casa.
JACI PARANÁ: O CAOS MORA AO LADO
Pouco mais próximo da capital, cerca de 90 km, está localizado o distrito de Jaci Paraná, uma localidade totalmente diferente de Nova Mutum e modificada em todos os sentidos pela construção das usinas de Jirau e Santo Antonio. O vilarejo tinha em 2008 4.500 moradores e em apenas um ano subiu para 12 mil. Hoje a estimativa é de que a população ultrapasse a soma de 20 mil. Com a chegada de tanta gente atraída pela nova “corrida do ouro” (emprego farto nas usinas), os problemas sociais e estruturais se agravaram. Não há lugar para se morar. Os hotéis construídos às pressas para atender a demanda se transformaram em verdadeiros cortiços que vão se estendo a cada dia sem oferecer conforto,apenas abrigo. Falta o mínimo de saneamento básico.
Um terreno que antes valia R$ 100 hoje não é vendido por menos de R$ 15 mil. Tudo é muito grande em Jaci: do consumo aos problemas sociais. E tudo é muito caro também. Com tantos homens em busca de trabalho nas usinas próximas vieram as prostitutas e os bordéis. Calcula-se mais de quarenta bordéis construídos em casas de madeiras a espera de uma clientela cada vez mais numerosa. Com a prostituição vieram os crimes, as mortes em disputa por terras e por mulheres, roubos , furtos e drogas, muita droga.
A partir de 2012 as Usinas do Madeira deverão começar a gerar energia para o país, caso não ocorra mais incidentes como o quebra-quebra promovido por trabalhadores em março deste ano em Jirau que atrasou o cronograma da obra. Os consórcios Energia Sustentável, de Jirau, e Santo Antonio Energia, de Santo Antonio, alegam que destinaram R$ 369 milhões em compensação para serem investidos em projetos sociais nos municípios atingidos pelas obras das duas usinas. Diante da catástrofe social que se vê na capital e as localidades, como Jaci, que estão sendo atingidas, pode se dizer que é pouco. Principalmente porque o Estado não deve ser compensado pelo fornecimento da energia para mais de 20 milhões de residências nos grandes centros urbanos do país e principalmente pelo que deverá ocorrer ao final das obras quando restará uma multidão de pessoas abandonadas à própria sorte perambulando pelos vilarejos e cidades das região avolumando os problemas sociais. Um passivo social como herança da construção das usinas. Igualmente como ocorre nas corridas do ouro. O que fica é terra arrasada, destruição ambiental, caos social, pobreza e miserabilidade. É o que pode ocorrer com Jaci Paraná, cuja natureza brindou com bela praia de água doce onde todos os anos, em setembro, é realizado o tradicional festival de praia.
Autor: Vitor Paniagua/Hojerondonia.com
Foto: Wilmer G. Borges: