O início da estiagem não é bom sinal para o homem do campo. A vegetação fica seca, o gado perde peso e a produção sofre baixa. Uma fase complicada que aumenta os custos de produção e desvaloriza o preço do leite. Dados preliminares apontam que a queda na produção deve chegar a 40% esse ano na região de Ji-Paraná e afetar principalmente os produtores da agricultura familiar, que ocupam pequenas propriedades na criação e seu rebanho. Para driblar a crise das vacas magras muitos investem em novas alternativas, para reduzir os impactos.
Neste mês o preço do leite acumulou queda de 13% com oscilações entre R$ 0,64 e R$ 0,70 nos valores pagos aos produtores entre abril e maio desse ano. Um corte de quase R$ 0,15, que não agradou e resultou em um protesto com denúncias de formação de cartel entre os laticínios.
O impasse durou alguns dias e o preço ficou tabelado em R$ 0,55 o litro de leite. “É lamentável o que estamos vivendo. Aumentamos muito nossa produção, investimentos em tecnologias, e o preço não mudou. Hoje o nosso lucro é bem reduzido, ao contrário de nossas despesas que não param de crescer. Os laticínios ditam as regras e nós simplesmente obedecemos”, lamentou Verlando Chits, produtor rural.
A suspeita de cartel se reforça porque segundo vários produtores entrevistados pela reportagem em anos anteriores no período de estiagem diminuíam a produção e aumentavam os valores pagos pelo litro de leite. “O que não ocorreu neste ano. Tem menos leite no mercado e os laticínios sem explicação dispararam reduções nos dois últimos meses” lamentou Verlando.
PREJUÍZOS
O clima seco e a escassez de pasto poderá reduzir a produção em 20% no sítio de seu Claudimar. Com somente 15 vacas, mantém uma produção de 60 litros de leite por dia. “Sabemos que não será nada fácil esse ano. A seca será prolongada e os prejuízos serão maiores que no ano passado. Só de olhar a pastagem já tenho uma dimensão da situação. O jeito é alimentar o gado com silagem, cana ou ração”, comentou Claudimar Ferreira, produtor de leite.
Produtos pedem rigidez na fiscalização
Os produtores reclamam ainda que investiram em tanques de resfriamento, seguindo a resolução do Ministério da Agricultura e Pecuária, mas não entendem o porquê dos laticínios pagarem os mesmos valores aos que entregam no tambor. Segundo eles, a fiscalização teria que ser mais rígida, principalmente na hora de reduzir ou reajustar o preço do litro de leite.
“Infelizmente os agricultores não têm controle dessa cadeia, são as indústrias de laticínios que definem quase tudo, os agricultores ficam a mercê da situação. Eles são conduzidos, não pelo que planejam, e sim pelo que planejam as indústrias. Hoje o custo de produção é elevadíssimo, na seca tudo dobra de valor, e o produtor acaba ficando no vermelho no final do mês, devendo sem ter de onde tirar”, explicou Creonice Vilarim, secretária de política agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura em Rondônia ( Fetagro), alegando que não existem incentivos para o agricultor que investe na melhoria do leite.
Conseleite vai emitir preço referencial
O deputado Jesualdo Pires (PSB), que presidiu uma CPI do Leite no ano passado, disse que em no máximo quatro meses, o Conseleite criado após a CPI, vai passar a emitir um preço referencial do litro de leite no Estado de Rondônia.
Conforme a Emater, a região central do Estado é responsável por 70% da produção de leite. Ji-Paraná concentra hoje uma produção de 29 milhões de litros por ano e 79 mil litros por dia. Demanda que abastece as principais indústrias da região. Com a chegada da estiagem, a expectativa é de redução em 40% na produção.
“Todo ano acontece essa interferência climática. Infelizmente a maioria dos produtores não se preparam para isso. O custo de produção aumenta muito e o lucro cai bastante. O produtor tem que se planejar melhor, para que no ano que vem as perdas sejam menores”, falou Ricardo Vilas Boas, veterinário da Regional da Emater.
MERCADO
Nos supermercados da cidade, o leite integral e pasteurizado também foram reajustados. As três marcas mais vendidas em Ji-Paraná custam em média de R$ 1,79 a R$ 2,28. Valor que deixa a administradora Lucimar Costa, cautelosa na hora da escolha.
“Há semana em que o leite tem preço mais acessível, mas tem semana que é muito caro. Pra não pagar mais eu sempre procuro fazer uma cotação no preço em busca dos melhores valores. O que não quero é pagar mais por isso”, afirmou Lucimar.