O Diário da Amazônia traz nesta entrevista o secretário estadual de Educação, Júlio Olivar, que está à frente da pasta há pouco mais de três semanas, acumulando com o cargo de superintendente de Turismo do Estado, para o qual foi nomeado desde o início do governo Confúcio Moura. Dentre os principais pontos destacados, os problemas surgidos com o cancelamento da edição 2011 dos Jogos Escolares de Rondônia (Joer). Olivar também anuncia que vai dissolver a Coordenação de Esportes e Cultura em função de seu peso muito grande e falta de objetividade em suas ações. Júlio Olivar Benedito é jornalista e escritor. Atuou como estrategista e consultor de marketing político; e ativista social, trabalha com projetos nas áreas da educação solidária e inclusiva.
DIÁRIO – Senhor Júlio Olivar, a sua presença no Governo de Confúcio Moura é tida como de fundamental importância dentro de aspectos administrativos e políticos. Como se constituiu sua ida para a Educação, uma das pastas mais cobiçadas pelos aliados e necessitadas de reformulação?
OLIVAR – Temos um longo caminho pela frente, sem dúvida. E até podem cogitar o fato de que eu não ser um especialista no campo educacional. Mas, no entendimento do governador Confúcio Moura o que a educação estava mesmo precisando era de um gestor. Alguém com um perfil adequado para gerir e lidar com sua pluralidade. A Educação é uma área extensa e adversa a muitos entendimentos. Dentro da gestão deste governo procuro desempenhar meu papel fazendo o que melhor posso pela funcionalidade de suas estruturas. Talvez essa proposta de maior dinamicidade funcional seja a resposta.
DIÁRIO – Isto significa dizer que o secretário anterior, Jorge Elarrat, não estava conseguido conduzir a Seduc como o governador desejava?
OLIVAR – Certamente que não é bem isso. Elarrat é um técnico afinado para as questões de avaliação, diagnóstico e muitos outros suportes que a administração pode fazer uso. Elarrat ficou na Seduc o tempo que foi preciso para traçar um real perfil do órgão. E, feito isso, cumpriu sua tarefa. Este é o nosso entendimento. Vamos agora dar continuidade ao seu trabalho e possibilitar para a Educação um momento mais justo, mais adequado.
DIÁRIO – Secretário, como será a sua gestão, considerando que o órgão encontra-se desprestigiado socialmente e também não atende às reais necessidades da população?
OLIVAR – Para responder é melhor pensarmos no modelo anterior que orientava órgão. E ele esteve sempre voltado para as questões didático-pedagógicas. Isto é fundamental que se faça, mas não é apenas isso. Os gestores do órgão não podem, nem devem, se limitar à oferta de cursinhos de dois ou três dias pensando em elevar o nível e a qualidade educacional. De fato, tudo isso é necessário. Mas, têm que estar dentro de um plano com abrangência macro reunindo ferramentas que possam iniciar um processo de mudança. Isto acontece a longo prazo. Esta gestão tem que acontecer dentro de um plano para todos. E não apenas para alguns setores do órgão, como acontecia.
DIÁRIO – Na prática, como a sua gestão vai acontecer e quais melhorias vai propiciar para o cenário geral do Estado?
OLIVAR – Bem, os acontecimentos didático-pedagógicos têm que acontecer sob o bom planejamento administrativo. Se vamos construir escolas, reformá-las, investir mais em estrutura, por exemplo, é preciso fazer isso pensando em aproveitar melhor os recursos. Esta semana mesmo o governador já anunciou R$ 20 milhões para pinturas de escolas. Também está perto de ser creditado um montante significativo para que todas as salas de aula do Estado sejam climatizadas. Todas vão receber ar-condicionado.
DIÁRIO – O senhor falou bem mais da questão estrutural, física-prediais. Mas, e os servidores, o que podem ou devem esperar?
OLIVAR – Durante muitos anos a categoria (professores e técnicos) ficou no ostracismo, com salários que desmerecem o trabalho que desenvolvem. Além disso, também não se investiu adequadamente em sua qualificação. É isso que pretendemos mudar. Um professor não pode ganhar menos que todo mundo. Esta é uma categoria que se nivela às demais e, em alguns casos, deve ser pensada até mesmo com uma importância maior. A violência, pobreza e corrupção urbana são exemplos de como a Educação vai mal.
DIÁRIO – Qual a primeira medida tomada, quando de sua posse, pensando nas mudanças que devem ser feitas para dar uma dinâmica mais arrojada à Seduc?
OLIVAR – Em todo o Estado temos algo em torno de 35 Representações de Ensino (RENs) que consomem um volume muito grande de recursos e não devolvem isso em resultados satisfatórios. De imediato, desativaremos pelo menos 15 destas e vamos direcionar as atenções às que restarem. Isso, criando melhores estruturas e exigindo atuação mais objetiva.
DIÁRIO – O senhor diz que a Seduc estava caminhando em um automático e que, do jeito que estava, nem precisava de seus gestores. Como foi possível, que um órgão de importância tão significativa, chegar a este ponto?
OLIVAR – A Secretaria de Educação, durante muitos anos, foi utilizada como trampolim para políticos, sem oferecer as respostas que a sociedade exigia. Seus projetos e propostas educacionais não passavam de falácias politiqueiras. Um discurso de educação inconsistente e incoerente para os padrões atuais. Professores e alunos, como também seu corpo técnico, foram desprestigiados pelas administrações. Para reverter isso, estamos caminhando em muitas frentes. Exemplo disso foi o anúncio feito na semana passada pelo governador. Ele falou de um programa que vai oferecer laptops para professores.
DIÁRIO – O governador Confúcio Moura tem dissolvido alguns setores que considera supérfluos em suas dinâmicas de ações. Dentre estes, está a Coordenadoria de Esporte e Cultura que já perdeu quase todo o seu corpo técnico. Qual é o princípio desta decisão?
OLIVAR – Há muitos setores no governo que não passam de cabides de emprego. O governador quer acabar com isso. Quanto à Coordenadoria de Esporte e Cultura, muitas das suas ações estavam acontecendo de forma desordenada. Ela tem, por exemplo, um orçamento maior que muitas secretarias, como é o caso da Secel, e as decisões estavam sendo tomadas sem que até mesmo o secretário tivesse ciência. Autonomia demais sem resultados. O que vamos fazer com ela é devolver todos os servidores estatutários para suas secretarias de origens e, os comissionados, serão demitidos. Ela vai acabar.
DIÁRIO – E quanto às suas atividades. Para onde serão destinadas e como serão desenvolvidas?
OLIVAR – Primeiro vamos limpar a secretaria tirando aquilo que não produz resultados. Em seguida, quando todo o planejamento do órgão estiver finalizado, essas atividades já estarão bem encaixadas.
DIÁRIO – Quanto à defasagem do quadro de profissionais, algum projeto sendo desenvolvido para a satisfação das necessidades?
OLIVAR – Você há de convir que, para algumas áreas, a falta de profissionais revela um problema que foge à alçada estadual. Física, biologia, química, espanhol e outras disciplinas não têm oferta no mercado. Será preciso trabalhar programas de inserção de professores através de convênios com as estruturas federais, tais como as universidades para a formação acadêmica. Porém, já para a primeira quinzena de agosto, estão previstas contratações de pelo menos 600 servidores administrativos, dentre agente de alimentação, limpeza, conservação, motorista e inspetor de pátio. Atualmente, a Seduc tem mais de 13 mil professores em seu quadro. São 420 escolas que consomem R$ 775 milhões. Só com salários são mais de R$ 440 milhões.
DIÁRIO – E sobre o cancelamento dos Jogos Escolares (Joer), o que o senhor tem a declarar, considerando que há uma mobilização para que ele aconteça?
OLIVAR – Isto é caso finalizado. Não há mais o que se discorrer sobre isso. O governador já anunciou que em função de prazos e recursos tornou-se inviável. O Joer não vai acontecer mais em 2011. Ele não vai acontecer nunca mais.
DIÁRIO – Como assim? A Educação não terá mais os Jogos Escolares?
OLIVAR – Exatamente. Do jeito que ele vinha acontecendo servia apenas para se desviar e torrar recursos. Um gasto colossal para resultados mínimos. Mas, eu explico. O governador Confúcio Moura resolveu que um novo modelo será criado. Terá outra nomenclatura e vai primar pelos referenciais olímpicos. Desde o início dessa gestão estamos buscando referências, como é o caso de Cuba, com alguns contatos. Sua intenção é construir algo que possa lançar nossos atletas para o cenário nacional e internacional. Acreditamos que isto é possível em Rondônia. Este é o momento de iniciarmos esse processo. Teremos uma Educação de fato.
DIÁRIO – Algumas considerações a mais?
OLIVAR – Apenas lembrar que o projeto para a Nova Escola de Rondônia continua com suas discussões, através da parceria estabelecida entre a Escola Técnica Federal (Ifro), Universidade Federal de Rondônia (Unir) e demais representatividades do setor educacional.
Autor: Diário da Amazônia:
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