O jornalista e pesquisador Dejanir Haverroth (FOTO) também traça um painel com a trajetória político-eleitoral de Vilhena desde a primeira eleição municipal. Porque a popularidade de Zé Rover está caindo Comentários políticos.
Dejanir Haverroth*
As obras e serviços públicos do governo municipal de Vilhena estão em andamento. O ritmo de trabalho está dentro da média dos últimos anos. O prefeito José Rover está presente na maioria dos eventos, tem carisma e dá atenção a todos.
Então, por que sua popularidade está em queda, e, com apenas oito meses de mandato, boa parte de seus eleitores se dizem arrependidos de o terem elegido? Para respondermos isso, precisamos conhecer um pouco da história da política em Vilhena e o contexto em que Rover foi conduzido à prefeitura.
Populistas e empresários se revezam no poder
Após a primeira eleição direta para prefeito de Vilhena, em 1982, formou-se dois blocos políticos no município, e permanece até hoje: o bloco dos empresários e o bloco dos representantes populares – eles se alternaram no poder desde a emancipação. Essa divisão culminou na cassação, de Vitório Abrão, o primeiro prefeito eleito, três anos depois. Abrão era representante popular e tinha, na presidência da câmara, um representante dos empresários. Porém não vamos entrar nesse mérito.
No ano de 1989 iniciou outra fase na política de Vilhena, onde os empresários emplacaram na política e elegeram prefeitos para dois mandatos. Lourivaldo Renato Ruttmann e Ademar Marcol Alfredo Suckel. A eleição de Ruttmann teve o apoio do então presidente da Câmara de Vereadores, também empresário, Ilário Bodanese, ex-presidente da câmara de Vereadores e responsável direto pela cassação de Vitório. Ilário estava fortalecido com a cassação do prefeito e se tornou o vice-prefeito de Ruttmann. Ele foi o responsável pela maioria dos votos que os conduziu á prefeitura. Ruttmamm não tinha pretensões políticas, mas acabou sendo conduzido com vitória expressiva para a prefeitura municipal de Vilhena graças ao apoio de Ilario Bodanese e dos empresários.
As divisões políticas não estavam só entre os populares e os empresários. No bloco dos empresários também existiam “rachas’. Na eleição de 1992, a legislação não permitia que o prefeito concorresse à reeleição. Por isso Ruttmann resolveu apoiar o vereador Humberto Rover. Porém, na oposição, estava outro empresário: Ademar Marcol Alfredo Suckel, conhecido como Ademar Marcol. Sua campanha estava pautada na promessa de construção de uma usina hidroelétrica em Vilhena. As pessoas apostaram em Marcol movido pela possibilidade de crescimento para o município.
Com votação apertada, Ademar Marcol foi eleito prefeito de Vilhena. Sua postura, após ser eleito, tornou-o anti-popular e ele perdeu força. Brigou com a imprensa, com o padre da Igreja Matriz e com pastores evangélicos. Por fim, conquistou a antipatia da maioria dos segmentos sociais de Vilhena. Devido á sua conduta, Marcol abriu uma grande brecha para que viesse para Vilhena um grupo político de outro município: a família Donadon. O Candidato apoiado por Marcol para contrapor aos Donadon, Reditário Cassol, obteve votação pífia (cerca de 550 votos). Reditário é pai do atual governador Ivo Cassol.
Era Donadon – polêmica e crescimento
No ano de 1985, o então prefeito de Colorado do Oeste, Melkisedek Donadon, começou uma campanha de marketing nos meios de comunicação de Vilhena. Objetivo; eleger-se prefeito de Vilhena no ano seguinte, em 1996. A campanha teve sucesso e Melki Donadon foi eleito com 56% dos votos válidos. Esse foi o marco da era Donadon na prefeitura de Vilhena, que se estenderia por 12 anos seguidos.
Em seus dois primeiros anos de mandato, Melki se utilizou das ferramentas do marketing e da mídia como se estivesse em campanha eleitoral. Tratava-se de uma preparação para um próximo passo, a eleição para governador. Em 29 de abril de 1998, Melki renunciou a prefeitura para concorrer ao governo do Estado e foi derrotado. A vaga de prefeito de Vilhena foi preenchida por Heitor Tinti Batista.
No ano de 2000, Donadon voltou a disputar a prefeitura de Vilhena, vencendo Heitor batista com 65% dos votos válidos – 9% a mais que na eleição anterior para a prefeitura. Desta vez Melki prometeu ficar e cumprir todo o seu mandato. Foram quatro anos de muito crescimento demográfico em Vilhena.
Populista e com o apoio de Senador da República, Amir Lando, Melkisedek conseguiu consolidar seu mandato e conquistar a maioria do eleitorado, com incremento na política de ação social, saúde e educação. Criou o Centro de Produção de Alimento e passou a distribuir pão e leite de soja para a população carente. Também investiu em infra-estrutura nos bairros mais pobres da cidade e asfaltou a avenida principal do mais novo e populoso bairro de Vilhena, o Cristo rei, onde se concentrava o seu maior eleitorado.
No ano de 2004 lançou-se novamente à prefeitura, mesmo contra a justiça eleitoral que não autorizou a sua candidatura por entender que seria uma segunda reeleição. Faltando apenas 10 dias para a votação, ele retirou a candidatura e colocou em seu lugar o jovem Marlon Donadon, seu primo, de apenas 22 anos de idade. Marlon foi eleito com 66% dos votos válidos, porém o eleitor via nas urnas eletrônicas a foto de Melki Donadon.
Donadon cai e empresários voltam
A eleição de Marlon revoltou os adversários e o poder judiciário, que, juntos, iniciaram uma campanha contra Donadon no ano seguinte, com a posse do eleito. O Mandato do jovem Marlon foi tumultuado e cheio de denúncias de corrupção. Melki, que estava por traz de Marlon, foi obrigado a se afastar de prefeitura por ordem da justiça, sob acusação de “usurpação do poder”. Marlon Donadon, acostumado com assessoria do primo experiente, ficou perdido, e continuou a sua vida de viagens para Manaus e Porto Velho, supostamente para participar de festas em boates.
No ano de 2007, a oposição se articula e consegue “criar” uma liderança popular para derrotar Donadon no pleito de 2008. Nessa frente se uniram todos os adversários da família: Ivo Cassol, filho do adversário de Donadon derrotado em 1996, Reditário Cassol; Heitor Tinti Batista, derrotado por Donadon em 2000; empresários ligados ao antigo grupo de Suckel, representado pela família Arrigo, e ao grupo de Ruttmann, representado pela família Goebel.
A oportunidade batia á porta da oposição. De um lado um prefeito inexperiente, eleito por influencia direta de Melki Donadon, em um suposto “golpe eleitoral”. Sua ausência em eventos públicos e em suas próprias reuniões e inaugurações, acrescido de uma fama de irresponsável e de “festeiro”, fez de Marlon um alvo fácil para a campanha da oposição e, por conseqüência, sobraram argumentos contra Melki, léder maior e candidato do Clã Donadon.
Do outro lado, a oposição encontrou uma liderança emergente e com todas as características necessárias para cair na graça dos eleitores. A escolha do vice-prefeito também foi estratégica. Jaciê Dias é pastor evangélico de uma denominação com grande número de fiéis. Além disso, ele fazia parte do Grupo de Donadon. Com a mudança de lado do Pastor Jaciê, ao mesmo tempo em que enfraqueceu Donadon, fortaleceu a oposição. Por fim, a oposição se armou de todos os argumentos necessários para motivar todo o grupo e conseguiu contagiar a maioria dos eleitores de Vilhena.
Zé Rover foi eleito prefeito. Os eleitores foram motivados a votarem, não em Zé Rover, mas naquilo que ele representava. Ou seja, o conjunto de seus aliados, as promessas de melhorias e mudanças e a divisão do poder entre os grupos que o apoiaram. Porém, pouco do que se apregoou nos palanques foi possível realizar.
Conclusão – Porque a popularidade de Zé Rover está caindo
Um reino dividido não subsiste. Assim que assumiu a prefeitura, Zé Rover começou a colocar em seu staff os empresários e políticos que o elegeram. A maioria desses aliados não o respeita como um líder, já que conhecem as circunstâncias em que ele foi eleito. Nem mesmo o vice-prefeito o coloca como líder.
Em todas as secretarias existem representantes de grupos diferentes, com idéias e formas de trabalhos diferentes. José Rover acreditou que foi eleito prefeito de Vilhena por seus próprios méritos, e esquece que foi apenas usado – por pura falta de opção – pelo conjunto dos diversos grupos de oposição e conduzido ao poder para atender os interesses desses grupos.
Sua relação com o poder legislativo, com a imprensa e com outros segmentos constituídos está longe de ser harmônica. Muitos de seus próprios aliados já foram atropelados por ações impensadas de Rover. Seu estilo empresário, com certa pitada de arrogância e prepotência, não consegue ser totalmente superado pelo seu carisma. Não há um plano de ação ou de conduta. Muitas decisões são tomadas sem nenhum critério e os erros são inevitáveis.
Se alguma mudança ocorreu, sua assessoria de comunicação não está conseguindo transferir o mérito ao prefeito. Todo o bônus político do trabalho que vem sendo realizado no município é automaticamente transferido para os grupos que compõem a administração municipal – empresários, família Goebel e Governo do Estado. Para Rover, sobrou apenas o ônus da administração, gerados pela sua inexperiência política.
*Dejanir Haverroth é jornalista em Vilhena e diretor do IRPE (Instituto Rondoniense de Pesquisa e Estatística).
OS: Para reproduzir o presente texto ou parte dele, favor citar o autor.
Confira o artigo em sua publicação original:
http://www.irpe-ro.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=52&Itemid=1
FONTE/TEXTO – DEJANIR HAVERROT
FOTO – DIVULGAÇÃO.
REDAÇÃO/HOJERONDONIA.