Produtores rurais sofrem com o abandono em pólo produtor de Porto Velho

Sem estradas, sem energia e sem assistência técnica, famílias de pequenos produtores rurais lutam pela sobrevivência na capital…

Cerca de 900 famílias de pequenos produtores rurais do setor chacareiro após o bairro Jardim Santana,em Porto Velho, enfrentam uma situação de caos e abandono. Sem estrada, sem energia elétrica, sem apoio técnico, sem água tratada e sem perspectivas de melhoras, muitos não escondem a revolta com o poder público e a sua indignação com a forma desumana como são tratados.

“Faz três anos que não passa uma máquina patrolando as estradas, se tem um pá de cascalho, quem colocou foram os moradores. Estamos do lado da cidade, mas abandonados, jogados, sem apoio e sem nenhuma esperança de recebermos melhorias”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Hortigranjeiros do Vale do Sol (Asprohovas), Luiz Dionísio de Sousa.

No local, são cultivadas bananas, macaxeiras, frutas, verduras e hortaliças. Há ainda a criação de galinhas caipiras, porcos, abelhas e produção de flores e plantas ornamentais. Os produtos atendem desde ao programa Fome Zero, do Governo Federal, até a merenda escolar da rede pública e mercados da capital.

“Mesmo com toda essa produção, graças ao esforço dos trabalhadores e de suas famílias, muitos deixam de fazer as entregas, pois não há estradas, que foram tomadas por buracos, lama e atoleiros”, completou o produtor rural Sílvio Souza.

Para poder produzir, os trabalhadores improvisam e se ajudam, já que não há assistência técnica e muitos menos insumos. “Não temos energia, ficamos sem poder usar água nas nossas estufas. Para isso, utilizamos um barulhento gerador a diesel, que encarece a produção”, disse a produtora Núbia Lafayete.

Lafayete e o marido produzem cerca de dois mil maços de cheiro verde ao dia, que são comercializados nos mercados da capital. Eles produzem ainda alface, couve-flor, cebolinha e outras hortaliças e empregam pelo menos 10 pessoas no plantio e colheita.

“Estamos trazendo energia confiável, pagando do nosso bolso, para poder deixar de usar o gerador e ter mais produção nas estufas. É difícil, você trabalhar de domingo a domingo, para produzir e não ter como levar o produto pra vender”, disse ela, acrescentando que “também compramos cascalho e espalhamos nos locais mais críticos, mas isso não resolve”.

Mostrando o potencial produtivo da região, o produtor Cavalcante, como gosta de ser chamado, aposta na criação de galinha caipira. “Tem dado resultado sim, basta saber criar ter atenção com os animais”, disse ele, que trouxe uma novidade:
galinhas da espécie Índio Gigante, que podem chegar até a 1,10cm de altura e pesar 8 quilos. “Estou apostando em estabelecer a raça aqui na capital”, completou.

Produção pode ser perdida por não ter como escoar

A história do casal, que reside há seis anos no local, produzindo hortaliças, é semelhante a de muitos outros produtores da localidade. “Estou com 20 mil pés de abacaxis plantados, mas temo não poder colher e vender a produção, por falta de estrada. Isso é revoltante. Estou tão perto da cidade, mas parece que não existimos, que o poder público não nos enxerga e nem nos respeita, como cidadãos”, desabafou o produtor Ezequiel Antunes.

Ele mora há 11 anos num pequeno sítio, com a esposa e mais três filhos. “Todos criados e cursando universidade. Eu levo eles de moto daqui, no meio desse lamaçal. Fazemos isso porque temos dignidade e somos gente trabalhadora. Não queremos favor, queremos que a prefeitura cumpra o seu dever”, acrescentou.

Antunes, que planta ainda outras culturas, reclama da falta de apoio técnico e de insumos. “Planto abacaxi com base em meus conhecimentos mesmo, vou fazendo do meu jeito, sem assistência técnica, sem calcário e sem apoio. Estamos isolados e jogados à própria sorte”, completou.

O pequeno produtor Cotelide Filho, conhecido como Alemão, cultiva cheiro verde, quiabo, pepino, maxixie e melancia. “Trabalho de sol a sol e na hora de vender o que colho, não consigo. A gente luta tanto e merece ser tratado como gente”, observou.

Já Sebastião Camilo, conhecido como Mineiro, que mora na região há 12 anos, conta que há um ano conseguiu se cadastrar para fornecer hortaliças para a merenda escolar de 26 escolas municipais da Zona Leste da capital.

“Meu lote é de2,5 hectares, mas produz bem, trabalhando com a minha esposa Raimunda. O problema é na hora de vender, pois não tem estrada e ainda temos a falta de energia, de calcário e assistência técnica. Mesmo assim, não deixo de trabalhar e produzir”, disse.

Falta de estrada e de energia irrita produtores

Mesmo isolados, os produtores transformaram a região num dos principais pólos de produção de hortigranjeiros. A falta de estradas e de energia, já que a maioria utiliza energias de ‘rabicho’, puxando das redes nas avenidas Amazonas, Alexandre Guimarães e Pinheiro Machado, entre outras vias.

“Não dá pra colocar um motor, para ampliar a nossa produção, pois falta energia. Estamos há poucos quilômetros do asfalto e da energia, mas sofremos com o abandono, parece até mentira”, relata seu Luiz de Sousa

“Como pode uma região que produz alimento saudável para a população da capital, ser tão abandonada e esquecida. Como uma cidade pode crescer sem alimento? E a gente está aqui, contra tudo e contra todos, produzindo”, desabafou o produtor Benedito Stanischesqui.

Outro problema da região é questão de documentação da área. Uma briga judicial se arrasta há anos e segundo os moradores, isso tem atrapalhado e muito a vida deles. “Estamos mostrando que estamos aqui para trabalhar, para produzir, não somos invasores, houve uma ocupação pacífica e de acordo com o dono da área, mas agora enfrentamos essa barreira, que confiamos na justiça e em Deus para superá-la”, observou Ezequiel Nunes.

Hoje, cerca de 18 linhas da região sofrem com a buraqueira e os atoleiros. É preciso fazer desvios e em alguns lugares, o tráfego de veículos é simplesmente impossível.

“É mais fácil chegar as flores de Holambra do que as minhas ao mercado da capital”

“É mais fácil chegarem as flores de Holambra, no interior de São Paulo, do que as minhas chegarem ao mercado da capital. Isso porque estou há apenas dois quilômetros do asfalto, mas não posso sair, pois a estrada foi engolida pelos buracos e atoleiros”, o desabafo é de César Henrard, produtor de flores e plantas ornamentais.

Junto a esposa Graciele de Oliveira, ele tem mais de R$ 1 milhão em flores e plantas, mas sem ter como comercializar, em razão das péssimas condições das estradas. “Todo um ano de trabalho, está se perdendo aqui nos canteiros. Além disso, quando nos arriscamos a transpor o lamaçal, acabamos o nosso carro e gastamos muito com o conserto. É vergonhoso e ninguém faz nada”, lamentou.

César chegou a firmar que se não houver uma melhoria nas estradas, pensa em largar tudo e se mudar para outra cidade. “Penso em ir para Manaus (AM), vou vender o que plantei e me mudar. Flor é um produto que não pode esperar e sem estrada, nada podemos fazer”, completou.

Além da falta de estrada, sem energia César e Graciele precisam trabalhar dobrado para manter os canteiros em ordem. “As sementes precisam ser regadas à mão, a cada meia hora. Se tivesse energia, usaríamos um sistema que regularia a irrigação das plantas, automaticamente. Ou seja, temos que trabalhar muito mais”, declarou Graciele.

REDAÇÃO/HOJERONDONIA.





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